sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Talento, criatividade, desperdício de tempo?

Venho tendo alguns problemas quanto aos pensamentos sobre futuro.
Difícil entender se estes pensamentos apreensivos são normais ou se são fruto de algo que ainda estou conhecendo.
Antigamente, nossos pais começavam a trabalhar muito cedo e antes dos 30 anos já tinham casa, emprego, carro e filhos na escola. E olha que diziam que antigamente não tinham tantas oportunidades, o salário era menor e tudo mais.
Hoje, para conseguirmos dinheiro para comprar um carro, já temos quase 30 anos.
Casa então, deve ser lá pelos 50 anos.
Será que a proporção de preços está certa?
Será, realmente, que uma casa de 50 mil reais há vinte anos equivale aos nossos preços milionários de hoje?
Eu acredito que, se havia menos população, a corrida pela busca de um imóvel era menor.
A briga por vagas nas universidades era menor.
Hoje viramos máquinas de trabalhar. Máquinas de estudar.
Máquinas.
Temos que nos destacar, ser bonitos, bem vestidos, limpos mesmo no calor de 50 graus, estudiosos, inteligentes, trabalhadores, ricos e, se puder, 100% do tempo felizes.
Somos tratados como aberrações se ficamos mais de uma semana pensativos, retraídos e queremos ficar sozinhos.
Até onde iremos conseguir lotar nossas agendas?
É certo que temos que nos destacar, mas será que o mundo tem capacidade de absorver tantos gênios?
Será que todos nós temos talentos ainda não descobertos?
Será que todos nós temos um lugar ao sol???
É isso que buscamos todos os dias...
Mas nem tudo são rosas.
Existem oportunidades que ganhamos e outras que perdemos. Umas perdemos sem esperanças e outras deixamos escapar pelos dedos. Essas são as que doem mais.
Esse mundo que nos obriga a vencer e sorrir o tempo todo, não nos prepara para perdermos.
Este ano já perdi duas tentativas de tentar ser monitora.
Minha primeira frase sobre isso foi: "Já tenho duas derrotas para carregar nos ombros esse ano."
Meu namorado me disse: "Você precisa ver por este lado obscuro esta situação?"
E aí que eu parei para pensar no peso que eu me imponho.
Ninguém me disse para eu enxergar o mundo deste jeito.
Mas acabei me tornando fruto desta pressão.
Me impus tantas coisas para fazer que deixei de ter tempo para as atividades prazerosas, como estar escrevendo aqui, por exemplo.
Após um ano neste ciclo, parece que perdemos o contato com o mundo normal.
Parece que vivemos para trabalhar, estudar e trabalhar. E entramos num labirinto onde buscamos sempre uma grande saída para nosso lugar ao sol, que nos tornamos obcecados e não sobra mais tempo para nos permitirmos ver televisão. Sim! Televisão desestressa. É algo banal que te faz parar de pensar um pouco em coisas sérias da vida. É um portal onde podemos ver as ruas frias da Europa com que tanto sonhamos conhecer um dia.
E por quê não nos deixarmos fazer o que gostamos?
Cheguei a uma conclusão esta semana de que o tempo que disponibilizamos para nosso lazer é mais importante do que se costuma pensar por aí.
Normalmente, aquele que fica em casa o dia todo, é mal visto pelo mundo.
Eu aprendi a pensar que essas pessoas podem se dar melhor na vida do que nós, loucos.
Pense naquele menino que ficava no quarto tocando guitarra o dia todo.
A família inteira reclamaria, dizendo que ele teria que estudar e tudo mais... Aquele papo que estamos cansados de saber.
Já pensaram que muitos de nós, voltados para o estudo porque aprendemos a sermos obedientes aos nossos pais e ao mundo, nunca na vida fizemos algo com tanta vontade como este menino que passava horas do dia tocando em seu quarto?
Quero dizer que, ao tentarmos seguir o caminho que todos seguem, de terminar bem a escola, ingressar para uma boa universidade e blá blá blá, a fórmula mágica para o sucesso, deixamos de pensar em quem nós realmente somos.
Quem somos nós?
O que gostamos de fazer?
Sinceramente, não gostamos de trabalhar em frente a um computador o dia todo, certo?
Computador sempre serviu em nossa adolescência para conversar com amigos e jogarmos, mas basta começarmos a ler um pequeno texto sério e o primeiro bocejo aparece.
Ou seja, computador é um brinquedinho muito útil e bom, mas não queiram trabalhar 8 horas por dia olhando para ele.
O munda continua girando e não vemos os dias passarem porque estamos fechados dentro de escritórios trabalhando em frente a algo virtual.
Estudamos tanto para isso?!
Será que se eu tivesse feito aquilo que mexia de verdade comigo, se eu tivesse me deixado ser xingada pelos meus pais, será que hoje eu não teria um brilho diferente no olhar?
Quem faz o que gosta é feliz. Com ou sem dinheiro.
O que não dá é entrarmos neste ciclo doido em busca de um lugar ao sol, seguindo uma fórmula mágica que não serve para todos.
Somos todos diferentes. E por quê raios essa fórmula teria de servir a todos se nem nossas roupas são iguais?
Mercado.
O mercado nos faz isso.
Aqueles que não conseguem determinado cargo, se contentam com outro e por aí vai, é assim que temos aquelas pessoas que fazem aquilo que ninguém quer fazer.
Eu me rebelo.
Se ano passado eu busquei a fórmula mágica e tudo o que consegui, além de experiência, foi uma necessidade de buscar um psicólogo para entender minha amargura perante ao mundo, este ano eu farei aquilo que amo.
Eu o conhecimento, mas quero que ele venha de lazer.
Não vou me obrigar a ler um texto nem mais um dia.
Vou ler aquilo que me interessa, pois, vejo gente sabendo muito mais de assuntos que eu gostaria de saber, sem "ter que ler sobre isso".
Elas sabem porque vibram com isso, se interessam, ficam lendo em casa, de madrugada.
E eu, que fico feito um robô aqui tentando ser boa em 15 coisas diferentes, acabei tornando tudo em minha vida numa obrigação.
Sair de casa para fazer qualquer coisa, se tornou obrigação.
Por quê?
Porque eu me cansei tanto, em busca de resultados rápidos e, claro, não vieram tão rápido quanto eu esperava, que tudo o que eu mais quero é ficar em casa.
Quero meses em casa.
Meses onde eu possa agir com naturalidade de novo.
Onde eu volte a sentir vontade de verdade de sair de casa, de rir de bobeiras com meus amigos.
Onde eu volte a explorar minha criatividade, enlaçada pelas obrigações do trabalho.
Não que não se possa exercer a criatividade em atividades rotineiras, mas é diferente você fazer algo só seu.
E não uma adaptação da invenção dos outros ao seu modo de ver o mundo.
Nossos pais nos criam para sermos bons trabalhadores, mas não bons seres humanos.
Ninguém nunca veio conversar comigo sobre as fraquezas que eu viria a sentir na vida, sobre os problemas que eu viria a enfrentar nas questões profissionais.
Hoje acho que estou passando a entender um pouco melhor essas coisas...
Estamos aprendendo.
Uma coisa é certa: não tem como fazermos tudo direitinho sem sentirmos o peso do stress no corroendo.
Trabalho deveria ser 8 horas por dia, assim como 8 horas de lazer e 8 horas de sono. Mas acaba que temos 16 horas de trabalho, porque temos de levar as preocupações e metas para o dia seguinte para nossas casas e ficamos com 4 horas de sono e 4 horas para irmos ao médico, fazermos uma comida...
Por isso nos submetemos a comermos mal, na rua, com fast foods...
E queremos comidas fortes...
Quem trabalha o dia todo e espera uma salada fria no fim do dia?
Complicado...
Não concordo muito bem com isso.
Portanto, este ano, trabalharei, mas serei também, em algumas horas do dia, o menino do quarto.
Serei sim, porque se eu não explorar meus interesses nessa vida, não farei em outra.
É esse "tipo" de gente que eu tenho visto serem as que mais se desenvolvem na vida pessoal e profissional. Trabalham por prazer porque buscam nos trabalhos aquilo que tem a ver com seus gostos.
Agora, aquele adolescente que tentou seguir a fórmula mágica do sucesso, nem consegue o sucesso e nem sabe quais são seus maiores interesses, porque alguém os disse um dia que andar de skate era coisa de vagabundo, que música não daria em nada e que sonhar não matava a fome.
Eu defendo o desenvolvimento dos talentos.
Meus filhos não serão robôs do mercado.
Serão pessoas mais simples do que eu no quesito emocional porque farão aquilo que lhes deixam tranquilos e disso tirarão seus frutos.
Certo amigo gostava de fazer bolões de futebol. De tanto escrever sobre isso e sobre a criminalização ou não desses bolões, hoje ele é parte da redação de vários jornais...
Eu quis sempre ser escritora, mas em busca da fórmula mágica, cá estou no anonimato, porque nunca dediquei tempo a isso de verdade, porque não "daria um futuro seguro".
E continuo a busca pelo lugar ao sol...

Um comentário:

  1. Há sempre espaço para a essência. Leia os textos do Tim Urban; poderá dar um pouco de ânimo (http://ano-zero.com/mamute1/). Parabéns pelos textos.

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